Em Jundiaí, todas as “narguilarias” visitadas estão em desacordo
com a lei, que proíbe a venda de bebidas em tabacarias.
Encontrar em tabacarias em Jundiaí tem se tornado uma cena recorrente. Jovens se divertem espremidos em bancos enquanto fazem argolas no ar ao soltar a densa fumaça aspirada dos narguilés, que passam de boca em boca.
Um dos segredos desse negócio, segundo especialistas entrevistados, é que tanto o sabor das essências quanto as variedade de cores do narguilé o deixam com uma imagem de produto quase inofensivo.
Entretanto, médicos dizem que ele é cerca de cem vezes mais potente que um cigarro comum.
Segundo a coordenadora de fiscalização da Lei Antifumo da Vigilância Sanitária no Estado de São Paulo, Elaine D’Amico, nos últimos dois anos houve um grande aumento no número de tabacarias voltadas para o uso de narguilés. “A Lei Antifumo está em vigor desde 2009, mas as tabacarias entraram no nosso cronograma de fiscalização recentemente porque percebemos um grande crescimento desse nicho”, conta.
Autoridades e especialistas ouvidos apontaram para riscos de saúde enfrentados por usuários pelo alto teor de tabaco consumido, pela possibilidade de transmissão de doenças infectocontagiosas através do compartilhamento da piteira do narguilé e também pelo fumo passivo – caso de pessoas presentes nas tabacarias que respiram a fumaça mesmo sem dar nem sequer um trago.
Procurada, a Associação Brasileira da Indústria do Fumo (Abifumo) informou que não acompanha o crescimento desse tipo de comércio porque nenhuma empresa com foco no narguilé é associada.
‘Cachimbo de água’
De origem oriental, o narguilé é, de maneira simplificada, um cachimbo de água. O ar aquecido por carvão passa pelo fumo e resfria no líquido antes de ser aspirado – e eliminado em seguida – pelo usuário. O fumo, também conhecido como essência, é composto de tabaco e frutas ou aromatizantes.
Tabacaria ou bar?
As tabacarias contam com mesas e bancos normalmente feitos de pallet, os narguilés são colocados em posição central sobre a mesa. Por lei, não é permitido servir comida ou bebida alcoólica nesses locais.
São ambientes fechados em que o consumo de derivados de tabaco, como charutos, cigarros e narguilés, é autorizado por lei – desde que sejam respeitadas algumas determinações, com a existência de sistema de ventilação.
Desde a implantação da Lei Antifumo em 2009, a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo fez 1,7 milhão de inspeções em locais como bares, restaurantes e tabacarias para coibir o tabagismo passivo – a inalação da fumaça produzida pelo tabaco – e aplicou 3.854 multas.
Segundo a coordenadora de fiscalização da Vigilância Sanitária, boa parte das irregularidades do tipo registradas no Estado ocorre por causa da comercialização de narguilés por bares sem licença para tal.
Outra irregularidade comum em Jundiaí, é a de empresas com CNPJ para atuar como tabacarias que vendem bebidas no mesmo espaço usado para consumo do tabaco, o que é proibido. Todas as tabacarias visitadas pela reportagem vendem bebidas alcoólicas normalmente.
As tabacarias são obrigadas a ter um sistema de exaustão para a saída da fumaça e uma placa na entrada alertando para o consumo de produtos fumígenos. Em caso de irregularidade, o comércio é autuado e pode ser multado em R$ 1.253,50. Em caso de reincidência, o valor da punição dobra. Na terceira vez, o estabelecimento é interditado por 48 horas, e na quarta, fechado por 30 dias.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o tabagismo passivo é a terceira maior causa de morte evitável.